Movimento pela justiça climática parou o gás fóssil e lança próximos passos, declarando que este será o último inverno de gás.

No dia 13 de Maio, 200 pessoas de todo o país travaram o funcionamento do Terminal de Gás Liquefeito (GNL) no porto de Sines durante 7 horas. Apoiantes de Parar o Gás fecharam a norte a válvula de emergência do gasoduto que sai do terminal com as suas próprias mãos, travando a saída de gás do terminal via gasoduto. No mar foi bloqueada a entrada dos barcos no terminal GNL e por terra foram bloqueados todos os portões de entrada desta infraestrutura, impedindo assim a entrada e saída de qualquer transporte com gás. A indústria fóssil não é imparável e as ativistas anunciaram que irão continuar a bloquear e fechar a torneira de gás até este ser parado – este tem de ser o último inverno de gás.
Bloqueio por mar e terra do Terminal da REN: Parar o Gás é lutar por energia como um direito, por uma transição energética e pelo fim ao colonialismo fóssil.

O dia 13 de Maio começou cedo para as dezenas de pessoas que partiram às 5h00 da manhã do Porto e 6h30 de Coimbra rumo a Sines. Pelas 7h30 muitas mais reuniram-se em Lisboa para irem juntas até Sines.

Na chegada a Sines, centenas de pessoas reuniram-se no Jardim da Praça da República, no centro de Sines. Daqui partiram em manifestação pelas 12h00 até à entrada e saída dos camiões que transportam GNL para o resto do país. O portão desta entrada foi bloqueado, com uma das ativistas presa pelo pescoço às grades do portão com um cadeado, e dezenas de ativistas conectados a ela através de tubos nos braços e utilizando os próprios corpos. Garantiram, assim, que o portão não seria aberto nem seria possível tirá-las de lá. A mensagem da luta era clara: 100% eletricidade renovável e acessível até 2025, afirmando que para tal é preciso pararmos o gás.

 

Estamos em estado de emergência climática e precisamos de romper o status quo fóssil e a burocracia erguida para travar a transformação energética. Temos experiência histórica à qual podemos recorrer para nos ajudar a preparar para alguns dos desafios que podemos esperar. Temos a tecnologia necessária.

O que impede? A indústria fóssil que continua e continuará a colocar o lucro acima da vida da maioria das pessoas. O sistema capitalista não é capaz de resolver esta crise, estando na realidade na raiz desta.

Precisamos um serviço público de energias renováveis, gerida pelas e para as pessoas, que faça o lançamento das capacidade necessária para tirar todo o gás fóssil do sistema elétrico e que garanta uma transição justa e milhares de novos empregos dignos.

Ao mesmo tempo, dezenas de pessoas reuniram-se em frente da antiga Central Termoelétrica a Carvão em Sines. Afirmaram que o fecho desta não garantiu qualquer transição – estando atualmente a acontecer uma expansão energética com o aumento de utilização de combustíveis fósseis, em particular gás fóssil – nem teve qualquer justiça para com os trabalhadores. As ativistas partiram em manifestação pelas 12h00 em direção ao portão principal do terminal de GNL, local de entrada e saída de trabalhadores, que, como indicaram, não poderão ser deixados para trás. Na chegada ao terminal bloquearam o portão principal de acesso utilizando os seus corpos, tubos e com uma das apoiantes presa ao portão pelo pescoço. A indústria fóssil nunca irá garantir uma transição justa, por isso é preciso parar o gás.

Pelas 13h30, dezenas de activistas da Greenpeace e apoiantes de Parar o Gás, chegaram por água em barcos e caiaques ao Terminal de GNL. Apesar da linha policial ter impedido a entrada das ativistas no terminal, a ação conseguiu impedir durante várias horas a entrada de barcos de LNG no Terminal, utilizando caiaques tal como os seus próprios corpos dentro de água. Contamos igualmente com o apoio internacional de ativistas na Nigéria – país de onde vem a maioria do gás para Portugal – e em Moçambique – onde a GALP continua a explorar gás. A exploração de gás, focada em países africanos, está a devastar as comunidade há décadas, sem qualquer proveito para as populações. Da bacia do Rovuma em Moçambique até ao delta do Níger, na Nigéria, precisamos de parar a importação de gás para travar a nova onda de colonialismo fóssil.

Às 14h00 dezenas de ativistas em terra bloquearam um terceiro portão de entrada e saída do terminal. Todas as entradas do Terminal estavam bloqueadas. Com energia, coragem e determinação as pessoas mantiveram o bloqueio durante várias horas, colocando faixas, garantindo o cuidado de todas e afirmando que só sairiam de lá quando tivessem travado todo o funcionamento do Terminal de LNG.

Apoio das linhas da frente na Nigéria e Moçambique para parar o gás!

O gás utilizado em Portugal é principalmente proveniente da Nigéria, Estados Unidos, Qatar, e Rússia. As empresas que exploram o gás em Portugal – Galp, EDP, REN e Trustenergy – querem expandir ainda mais a produção e aumentar a importação de gás vindo do Brasil, Angola e Moçambique. Esta pulsão neocolonial agrava ainda mais as condições sociais, económicas e políticas em países que continuam a ser destruídos para manter o sistema suicida fóssil.

Nnimmo Bassey, da Health of Mother Earth Foundation, a partir da Nigéria, apoia a ação de Parar O Gás, reiterando “Enquanto as comunidades do Delta do Niger não conseguem respirar e têm as suas vidas cortadas pelo desastre ecológico contínuo da exploração de petróleo e gás, gasodutos de conflitos continuam a ser construídos. Apelamos a toda a gente que se mobilize em solidariedade contra o fóssil e que digam: NUNCA MAIS!”

De Moçambique, Anabela Lemos da ONG Justiça Ambiental reforça que “Para parar a exploração de gás precisamos de solidariedade global, como nesta acção de 13 de Maio. Só juntos poderemos parar o neocolonialismo e a opressão em África e no mundo”.

Fechar a torneira de gás com as próprias mãos para parar o crime: nós somos o travão de emergência.

Ao final da tarde, apoiantes de Parar o Gás entraram nas instalações intermediárias do gasoduto da REN, perto de Melides, e fecharam com as suas próprias mãos a válvula de emergência do gasoduto. Pela primeira vez em Portugal, ativistas pararam o gás, mostrando que a indústria fóssil não é intocável nem imparável.

Desde os anos 60 que as empresas, instituições e governos sabem que enquanto continuarmos a usar combustíveis fósseis, só vamos agravar a crise climática. Mesmo assim, os planos apresentados em 2023 são para expansão fóssil. Não têm planos para parar. Após anos de protestos e tendo cada vez menos tempo, a única resposta possível é sermos nós a parar este crime. No dia 13 de Maio puxámos o travão de emergência. O gás no local de crime parou. Fechamos a torneira que alimenta o capitalismo.

A REN na mesma semana em que Portugal tem 80% do seu território em seca, do qual 40% em seca severa, apresentou o plano para investir 800 milhões de euros nos próximos 10 anos na rede de gás. Milhões investidos em infraestruturas fóssil num momento em que já vivemos crise climática são um crime. Os lucros históricos da Galp são um crime. A expansão do terminal de GNL e de exploração de gás por todo o mundo é um crime. O aumento sufocante dos preços de tudo devido à especulação criada pela indústria de gás fóssil é um crime. Continuar a utilizar gás fóssil quando há soluções reais é um crime. Eles não vão parar. Cabe a todas nós para-los.

Todas as pessoas reuniram-se em frente do portão de entrada e saída dos camiões do Terminal de GNL, pelas 20h00, ainda a ser bloqueado. Celebraram terem conseguido travar o funcionamento do Terminal de GNL e afirmaram que continuarão a travar o funcionamento das infraestruturas de gás, até o gás parar.

Sabemos que eles não vão parar. Seremos nós a pará-los. Nós somos o travão de emergência. Nós vamos garantir que este será o último inverno de gás.

Tem de ser toda a sociedade a agir. Seremos todas nós a para-los e garantir que este será o Último Inverno de Gás.

A luta contra o gás fóssil não aconteceu apenas dia 13 de Maio. Durante 2 semanas centenas de estudantes ocuparam as suas escolas e universidades para parar a normalidade e lutar pelo fim ao fóssil e 100% eletricidade renovável e acessível até 2025. Chamaram toda a sociedade para agir e parar o gás, juntando-se no dia 13 de Maio à ação.

O movimento pela justiça climática em Portugal conseguiu no dia 13 Maio parar o gás e continuará a parar este crime as vezes que foram precisas, com coragem e criatividade, até parar definitivamente o gás fóssil e travar a crise climática.

A história está a ser escrita agora. Junta-te a nós!

Nos próximos dias teremos espaço para reflexão, avaliação e celebração. No dia 27 de Maio, em Lisboa, contaremos com um convívio de todo o movimento para celebrar termos parado o gás e onde podes descobrir mais sobre campanhas e organizações do movimento, próximos passos e como tu podes também ser o travão de emergência!

Nas próximas semanas participaremos em ações internacionais e será a vez de Abolir Jatos de puxar o travão de emergência para parar os combustíveis fósseis. A campanha Empregos para o Clima continuará a trabalhar em Sines, através do Grupo de Trabalho por uma Transição Justa em Sines tal como na luta por um Serviço Público de Energias Renováveis.

Parar o gás significa também parar todas as novas infraestruturas de gás. Assim, as ativistas do Climáximo no âmbito da campanha gás é andar para trás garantem que irão parar a construção do novo gasoduto entre Celorico da Beira e Zamora.

O movimento pela justiça climática em Portugal vai agora definir novas táticas e estratégias para acordar a sociedade da inação, travar os criminosos e parar o crime.

A única resposta possível face ao ataque contínuo, brutal e mortífero de continuar a utilizar gás é para-los com as nossas próprias mãos. Este será o último inverno de gás.